O Banho

Posted By Rafael Reinehr on jun 3, 2023 in Blog | 0 comments


Respiro profundamente e com minha mão direita toco o alumínio frio do box, sentindo a textura do metal, enquanto movo minha perna e pés direitos em relação ao piso do chuveiro e, ao encostar, sinto a textura do chão, fria e úmida, tocar a planta de meu pé. Movo minha outra perna e pé, juntamente com meu corpo, para dentro da área do chuveiro, solto o ar em meus pulmões, lenta e calmamente. Viro-me lentamente em direção à porta do box e a fecho atrás de mim, enquanto novamente inspiro profundamente, sentindo o ar inflar meus pulmões plenamente. Giro em direção à torneira do chuveiro e estico meu braço direito, e com a mão sinto o gelado aço inoxidável da torneira, fazendo força para girá-la e fazer iniciar a queda da água do chuveiro. As primeiras gotas atingem minha cabeça e ombros, e sinto-as fria, e um pequeno calafrio percorre minha espinha.

Ao sentir a primeira onda de gotas frias percorrer minha pele, meu corpo instintivamente se contrai em reação ao súbito frio. As gotas de água, apesar de pequenas, causam uma sensação intensa e refrescante. Elas deslizam pelo contorno da minha pele, criando pequenos riachos que descem pelo meu corpo. Sinto a forma como essas gotas de água caem sobre o meu couro cabeludo, provocando uma suave sensação de cócegas à medida que descem pelo meu rosto e pescoço.

Como em uma dança lenta e graciosa, dou um passo para trás, para me posicionar totalmente sob o fluxo de água que agora se torna gradualmente mais quente. O som da água jorrando do chuveiro se assemelha a uma sinfonia orquestrada pela natureza, ritmada e constante. Tento distinguir as notas individuais produzidas pelo impacto das gotas contra a superfície da banheira, a cada uma delas adicionando profundidade à melodia.

Permito que a água aquecida caia diretamente sobre a minha cabeça, sentindo sua temperatura confortável enquanto ela me envolve, escorrendo dos meus ombros até o fim da minha espinha, e por fim chegando aos meus pés. Sinto os músculos das minhas costas relaxarem, libertando a tensão acumulada durante o dia. Cada músculo, cada fibra se solta, deixando-me em um estado de completa e profunda relaxação.

Enquanto permaneço sob a água morna, meus pulmões se enchem de vapor úmido e quente, cada inspiração se torna um lembrete consciente do ambiente ao meu redor. O cheiro do sabonete neutro, situado discretamente no canto do box, começa a impregnar o ar. O aroma, simples e puro, me acalma, trazendo uma sensação de paz e tranquilidade.

Com movimentos lentos e deliberados, estendo a mão em direção ao sabonete. Sinto o choque inicial do frio do sabonete contra a pele quente da minha palma. É um retângulo sólido, sua superfície lisa contrastando com o cenário molhado e quente ao meu redor. Começo a esfregá-lo entre as mãos, percebendo a transformação gradual da sua forma sólida para uma espuma suave e macia. O som que ele faz, um sussurro suave e contínuo, se mistura com o barulho constante da água.

Agora, volto minha atenção para o meu corpo, coberto apenas pela fina camada de água da ducha. Levo as mãos ensaboadas aos ombros, onde começo a massagear suavemente a espuma na pele. Sinto cada contorno do meu corpo, cada curva e declive, cada área de tensão que se dissolve sob a pressão das minhas mãos. Os movimentos são ritmados, quase hipnóticos, à medida que vou descendo, passando pelo pescoço, deslizando pelo peito e barriga. Cada toque é intencional, cada movimento é uma homenagem à conexão do corpo e mente. O sabonete se transforma em uma espuma ainda mais rica e cremosa, envolvendo meu corpo numa carícia leve e gentil.

Permaneço neste estado por alguns instantes, sentindo a espuma cobrir cada poro, cada pedaço de pele exposta. Há uma leve sensação de formigamento, um zumbido quase imperceptível que envolve todo o meu corpo. Este momento é de pura calma, um silêncio confortável que é perturbado apenas pelo som do chuveiro.

Enquanto isso, meus dedos encontram o frasco de shampoo repousado na prateleira do box. Sua superfície é fria e lisa, contrastando com o calor do box. Ao abrir a tampa, sou recebido pelo aroma cítrico e refrescante do shampoo. Inalo profundamente, deixando o cheiro invadir meus pulmões, preenchendo-os com notas de frescor.

Despejo uma quantidade generosa de shampoo na palma da mão e a espalho nos cabelos, massageando o couro cabeludo com os dedos. Sinto cada fio de cabelo sendo coberto pela espuma, cada mecha se tornando mais leve e suave. A espuma penetra em cada fio, proporcionando uma sensação de limpeza e renovação.

Depois de enxaguar o shampoo, retorno minha atenção para o sabonete que ainda está em meu corpo. A água quente do chuveiro lava a espuma, em um movimento descendente, criando redemoinhos de espuma que descem pelo ralo. O sabão, juntamente com a sujeira e tensão do dia, são levados pela água. Resta apenas uma sensação de limpeza e frescor, uma renovação da pele que se sente viva e revigorada.

Ao desligar o chuveiro, o estrondoso som da água jorrando da ducha começa a diminuir, como a última nota tocada em uma bela sinfonia. O som passa de um ruído contínuo e estridente para um mero gotejamento. O eco das últimas gotas caindo na banheira ressoa pelo banheiro, cada uma parecendo marcar o fim de uma era e o início de outra. Meu coração parece sincronizar com esse ritmo, cada batida ressoando com o som do gotejamento. O silêncio que se segue é quase palpável, preenchendo o espaço com uma calma serena.

Ainda de pé, eu permaneço imóvel, permitindo que a água restante escorra do meu corpo. Sinto o calor residual da água evaporar lentamente, cada partícula de vapor parece levar consigo uma parcela do meu estresse e tensão. A umidade no ar é um lembrete suave da água que acaba de lavar não apenas meu corpo, mas também a minha mente.

Chegou a hora de me secar, e alcanço a toalha pendurada ao meu lado. A primeira sensação de sua textura felpuda contra minha pele molhada é quase celestial. Sinto a maciez da toalha conforme a passo pelos braços, secando as gotas restantes de água. Cada movimento é deliberado, cada toque é uma confirmação de minha existência física neste momento. A toalha então percorre o comprimento do meu tronco, absorvendo a umidade restante. A sensação de tecido seco contra a pele úmida é revigorante, me trazendo de volta à realidade.

Eu continuo, movendo a toalha para baixo, passando pelas pernas até chegar aos pés. Cada pé é seco cuidadosamente, entre os dedos, a planta do pé, até o calcanhar. Com o corpo totalmente seco, envolvo-me na toalha, deixando o tecido macio absorver o calor residual do meu corpo.

Meu reflexo no espelho do banheiro me cumprimenta, uma visão distorcida através do vapor que ainda está se dissipando. Observo como a névoa gradualmente se dissipa, revelando uma imagem mais clara de mim mesmo. Há uma centelha nos meus olhos, um sinal de renovação e rejuvenescimento que me faz sorrir.

Ao sair do chuveiro, cada passo é sentido com plena consciência. Sinto o contraste entre o chão frio e duro do banheiro e o piso quente e úmido do chuveiro. Enquanto caminho em direção à porta, cada passo ressoa no espaço silencioso, um lembrete de minha jornada.

Ao abrir a porta do banheiro, sou recebido pelo ar mais frio do corredor. Ele envolve meu corpo ainda quente, provocando uma sensação de arrepio que percorre minha espinha. Mas com isso, há uma sensação de revitalização, de renascimento.

O ato de tomar banho, tão comum e mundano, tornou-se uma experiência transcendental, repleta de momentos de reflexão e consciência profunda. Cada sensação, cada som, cada cheiro, foi observado, apreciado e experimentado com total atenção. Foi uma jornada de conexão profunda com o meu eu, uma exploração de minha existência física em cada instante.

Assim que fecho a porta do banheiro atrás de mim, levo um momento para apreciar a transição. O cheiro familiar do restante da casa, os sons abafados que se filtram, tudo me leva de volta à realidade do dia a dia. No entanto, me sinto diferente, revigorado. Meu corpo, agora limpo e revigorado, se move com uma nova energia, uma energia que foi desbloqueada durante a experiência do banho.

Caminho devagar em direção ao meu quarto, cada passo é sentido em sua plenitude, cada movimento carrega a calma e a clareza que ganhei. Sinto a textura do carpete embaixo dos pés, a frieza do corrimão da escada em minha mão, o som abafado dos meus passos no corredor. Tudo isso serve como um lembrete do momento presente, um lembrete da minha existência física.

Ao entrar em meu quarto, o conforto familiar me acolhe. As cores suaves, o cheiro sutil do meu perfume favorito, a luz suave do abajur, tudo contribui para uma sensação de contentamento, um sentimento de estar em casa.

Escolho cuidadosamente minha roupa para vestir, prestando atenção na sensação do tecido contra minha pele. A sensação do algodão macio, o caimento da roupa, o ajuste perfeito, cada detalhe contribui para a minha sensação de conforto e satisfação. Ao vestir cada peça, sinto uma conexão ainda maior com o meu corpo, uma apreciação do templo que habito.

O ato de vestir-me torna-se uma extensão do meu banho, um ritual de autocuidado que me permite expressar minha individualidade e personalidade. Cada peça que escolho, cada movimento que faço, é uma celebração de mim mesmo, uma celebração da minha existência.

Ao final deste ritual, sinto-me completamente renovado, não apenas fisicamente, mas também mentalmente. A experiência do banho me permitiu desacelerar, para apreciar cada momento e cada sensação. Transformou um ato diário em uma jornada de autodescoberta e mindfulness.

E assim, começo o resto do meu dia, levando comigo a calma e a clareza que ganhei durante o meu banho. Estou mais presente, mais atento, mais conectado comigo mesmo e com o mundo ao meu redor. A experiência de tomar banho, de me imergir completamente em cada sensação, cada momento, redefiniu a minha percepção de rotina diária, transformando-a em uma prática de mindfulness. Cada tarefa, cada momento do meu dia, agora carrega uma nova profundidade e significado. Estou mais consciente, mais vivo, mais eu.

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